VIDA DE
UM GAÚCHO
GAÚCHO TEU LENÇOL É O CÉU AZUL
TU ÉS A MARCA REGISTRADA DA AMÉRICA DO SUL
TEU SÍMBOLO É O NEGRINHO DO PASTOREIO
ÉS O GUARDIÃO DOS RODEIOS PAMPEANOS
ACENA COM TEU LENÇO AOS POVOS SULAMERICANOS
NA GUERRA DOS FARRAPOS FIZESTES BRILHAR O AÇO
TU NÃO TE ASSUSTA COM ENTREVERO OU TIROTEIO
PELEIAS AO COMPASSO DE UM VANERÃO
AO CLAREAR DO DIA CEVAS TEU CHIMARRÃO
O QUERO-QUERO GRITA AO ROMPER DA AURORA
AMOLA BEM A ROSETA DA ESPORA
ENQUANTO AÇA UMA LINGUÍÇA ENRUDILHADA
FECHA UM PALHEIRO EM PALHA AMACIADA
A CHINA VÉIA TIRA O LEITE NA MANGUEIRA
ENCILHA O PINGO BOTA O LAÇO NOS TENTOS
UM LENÇO NO PESCOÇO PRA QUE SE ESVOAÇE AOS VENTOS
PASSA BRILHANTINA NO CABELO E CEBO NAS BOLHADEIRAS
SAI NO TROTE MARCHADOR PELA ESTRADA DE POEIRA
VAI REUNIR O GADO LA NO FUNDO DA ENVERNADA
TROCAR UM CUMPRIMENTO E UM GOLE COM A PEONADA
LAÇAR UM BEZERRO E POR NO CHÃO
BOTAR TABULETA NAS VENTAS
CURAR BICHEIRA E ESPANTAR AS MOSCAS VAREJENTAS
CANTANDO E ASSOBIANDO ENTOANDO UMA CANÇÃO
SEMPRE FOI ASSIM A VIDA DE UM GAÚCHO
A SIMPLICIDADE DO CAMPO SEM LUXO
LIDA RUDIMENTAR DE UM PAÍS NOVO
QUE ORIGINOU A CULTURA DE UM POVO
QUE AJUDOU A ESCREVER A HISTÓRIA
DE UM PASSADO COBERTO DE GLÓRIA
EM DEFESA DE SEUS IDEAIS
ABRINDO CAMINHO EM ZONAS RURAIS
AS VEZES COM A HONRA ENSANGUENTADA
O GAÚCHO TEM A ALMA LAVADA
É BOM NO TIRO DE LAÇO E NO PIALO
SUAS CONQUISTAS A CASCO DE CAVALO
A PONTA DE SABRE E PLANCHAÇO DE FACÃO
PINGO LIGIEIRO E LANÇA FIRME NA MÃO
CONSTRUINDO O ESTADO PAMPEANO
A FOGO CRUZADO DE FUZIL
EM DEFEZA DA PATRIA BRASIL
E DO CONTINENTE SULAMERICANO
O GAÚCHO É DESCONFIADO E ARAGANO
E PELEIA EM DEFESA DE SEUS DIREITOS
COM O BRAZÃO DE SEU ESTADO NO PEITO
A BANDEIRA RIO GRANDENSE DESFRALDADA
SUAS ORIGENS JÁ MAIS SERÃO ESQUECIDAS
TRADIÇÕES SÃO POR DEMAIS CONHECIDAS
O RIO GRANDE É POR DEUS UMA TERRA ABENÇOADA
SEU POVO MATA OU MORRE EM DEFESA DA TRADIÇÃO
AO ARDER DE UM FOGO DE CHÃO
E O CHIMARREAR DE UMA PEONADA
O CANTAR DO GALO EM ALTA MADRUGADA
O CHURUMINGAR ALEGRE DE UMA CORDEONA
O REPINICAR PACHOLENTO DE UM VIOLÃO
O GAÚCHO ENTOA UMA CANÇÃO
ENQUANTO A ÁGUA ESQUENTA NA CAMBONA
UM INDIO PACHOLENTO VAI CONTANDO ANEDOTA
PITANDO E ENGRAXANDO AS BOTAS
E AGEITANDO LAÇO E MANEADOR
AFIVELA E AGEITA O TIRADOR
ENQUANTO A GRAXA CAI NO BRASEDO
DE UM ESPETO DE COSTELA GRATINADA
SE HOUVE AO LONGE A SINFONIA ORQUESTRADA
DOS PASSARINHOS LÁ NO ALTO DO ARVOREDO
O POVO GAÚCHO SEMPRE ACORDA SEDO
É TROPA QUE VEM E TROPA QUE VAI
DE UM LADO AO OUTRO DO RIO URUGUAI
CRUZANDO BANHADOS E MATOS
EM DIREÇÃO À BANDA ORIENTAL
E TAMBEM LÁ PRA CAPITAL
E ENCERRAR A TROPEADA NA LAGOA DOS PATOS
MOLHANDO O PEITO NAS PRAIAS DO LITORAL NORTE
GAÚCHO QUE É GAÚCHO NÃO TEME A MORTE
PELEIA A FERRO E FOGO ASSIM DE UM E UPA
ROBA A CHINA E LEVA EMBORA NA GARUPA
SE TIVER QUE MORRER QUE SEJA NO ALTO DAS COLINAS
QUEM SABE EM TERRAS ARGENTINAS
NUMA LUTA JUSTA E HERMANA
DE BAIXO DE CHUVA OU DE SOL
TENTANDO PRONUNCIAR UM PORTUNHOL
E TOMBAR NOS BRAÇOS DE UMA CASTELHANA
SE TIVER TOCANDO UMA TROPA ARAGANA
LEVE NOS TENTOS A GUAPA DE CANHA
POIS EM GEADA DE RENGUEAR CUSTO NA CAMPANHA
E SE TIVER QUE DORMIR NA VOLTA DE UM CORREDOR
REZE UMA PRECE PRA DEUS NOSSO SENHOR
SE POR ACASO TROPEÇAR EM UMA CRUZ
NÃO SE ASSUSTE POIS O FINADO É MANSO
ELE VAI CUIDAR DO TEU DESCANSO
REZE UM PAI NOSSO E LEMBRE-SE DE JESUS
É MAIS OU MENOS ISSO A VIDA DE UM GAÚCHO
VIDA CAMPEIRA NÃO OSTENTA LUXO
O PEÃO NÃO CONHECE LENÇOL
SUA COBERTA SÃO OS RAIOS DO SOL
NUMA SESTEADA DE DOMINGO
ABEIRA DE UM LAGEADO DE ÁGUA CORRENTE
VENDO PASTAR A SUA FRENTE
O SEU GRANDE COMPANHEIRO O SEU PINGO
GAÚCHO SE TIVER QUE MORRER UM DIA
SERÁ COM SATISFAÇÃO E ALETRIA
DANÇANDO UMA VANERÃO DE UM GAITAÇO
TOBANDO ASSIM DE PLANCHAÇO
OU ENTÃO NO MEIO DA FARRA
NO MOMENTO DE UM PIALO DE CUCHARRA
SE TIVER QUE MORRER TRABALHANDO
QUE MORRA COM A CHAPÉU QUEBRADO NA TESTA
QUE FAÇAM DO SEU VELÓRIO UMA FESTA
PARA QUE SUBAS AO CÉU CANTANDO.
ESCRITO LÁ POR VOLTA DE 2001, REFORMULADO NO DIA 09/07/2009 POR
VAINER DE ÁVILA
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