domingo, 7 de junho de 2009

enrrascada
do capeta

encilhei o cavalo
e me larguei na estrada
em busca de namorada
pois cancei de andar solito
saí atrotesito
pela estrada afora
com o trinta e oito do lado
pingo ligeiro e chapéo tapeado
e o tinir das minhas esporas

no meu cavalo baio
cusquioso de pêlo
brilhantina no cabelo
e bota bem lustrada
na cintura faca prateada
para o que der e vier
cancei da vida solita
quero uma china bonita
pra que seja minha mulher

bolhei a perna no bolixo
pra comprar fumo e bala
escondi por baixo do pala
forrei a cartucheira
pra no caso de alguma asneira
eu me acha-se prevenido
sou um gaúcho de paz
desde os tempos de rapaz
mas sou rápido e destemido

debaixo de lua cheia
pela estrada troteando
já logo encontrei fandango
entrei tirando par
alguem pra me acompanhar
dancei de espora e tudo
eu já meio enchaguado
dançando um xote largado
naquele baile cuiúdo

era uma morena xucra
flor de potranca linda
eu lembro ainda
que ela me disse ao ouvido
mas como tu és atrevido
eu sou uma senhora casada
o marido é brabo e dá berro
só que eu não sou de ferro
e por ti estou apaixonada

nisso chegou o taura
com cara de poucos amigos
e foi falando comigo
num tom de corno manso
abandonei meu descaço
porque a cousa ficou feia
já vi choro de mulheres
então saquemos dos talheres
e partimo pra peleia

bala de quarenta e quatro
zuniam no meu ouvido
e eu só ouvia o tinido
de um baita facão três listras
que embaçou a minha vista
e arranhou a minha telha
e eu soltei um berro
quando uma barra de ferro
caiú sobre a minha orelha

era um índio parrudo
desses flor de figura
com dois metros de altura
dez centímetros de braço
eu quaze morto de cançaço
e a cousa ficando preta
meu corpo quase não aguenta
ele botando fogo pelas ventas
então eu vi que pelhava com o capeta

voou bem pra longe
minha faca e meu revolver
e ele me soca e se envolve
em me prender num pescoção
de repente num safanão
eu me escapei de um jeito
que a possibilidade me compete
saquei de um canivete
e enterrei-lhe no peito

peguei a china pela mão
já quaze no romper da aurora
e saltemo porta afóra
era bala por todo lado
eu já todo esfarrapado
sujo de sangue eu saio
com um friozito na barriga
levei embora a rapariga
na garúpa do meu baio.

autor: vainer de ávila
grupo poetar cia do porto
teatro e literatura
capão da canoa rs

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